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Repositório reúne produção poética durante a ditadura militar no Brasil

Publicado: Quarta, 06 de Março de 2024, 10h35 | Última atualização em Quarta, 06 de Março de 2024, 10h35

Iniciativa é fruto de projeto com pesquisadores do Ifes e de outras universidades.

Com o objetivo de refletir sobre o lugar da poesia na construção da memória cultural brasileira em torno da ditadura militar no Brasil, pesquisadores do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) se reuniram para realizar um levantamento de poemas sobre o tema escritos durante a vigência oficial do regime, entre 1964 e 1985. Intitulado "Memorial poético dos anos de chumbo", o projeto já disponibilizou os primeiros resultados da pesquisa no site: mpac.ufes.br.

Com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), o projeto é coordenado pelos professores Nelson Martinelli Filho, do Campus Vitória; Marcelo Ferraz, da Universidade Federal de Goiás (UFG); e Wilberth Salgueiro, Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

A iniciativa surgiu a partir do interesse compartilhado pelos professores em relação ao tema. “Nós trabalhamos com temáticas afins, como poesia e ditadura, violência, questões da sociedade e como a literatura lida com esses problemas sociais. Já fazemos parte de um mesmo grupo de trabalho da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras e Linguística (Anpoll), o GT de Teoria do Texto Poético, e queríamos montar um grupo de pesquisa específico sobre a produção poética durante o período da ditadura”, explica Nelson.

O Memorial Poético dos Anos de Chumbo é um projeto em rede, de caráter interdisciplinar, que integra pesquisadores de diversas universidades brasileiras. O projeto conta com outros 13 professores de todas as regiões do Brasil, entre eles o professor Weverson Dadalto, do Campus Vitória. Participam ainda doutorandos, pós-doutorandos e mestrandos, que também estão vinculados oficialmente ao projeto, além de quatro bolsistas, dois de pós-doutorado, com bolsa do CNPq; e dois bolsistas de apoio técnico pela Fapes, graduadas na área de Letras.

Com vigência até o início de 2025, o memorial está aberto à colaboração de outros professores, estudantes e da sociedade em geral.

O projeto
De acordo com a coordenação do projeto, a produção poética durante a vigência da ditadura militar no Brasil é particularmente carente de estudos críticos que explorem a fundo seus liames com a vida social, a história, as políticas da memória e os direitos humanos. Essa produção abarca um repertório poético heterogêneo, amplo e, em vários casos, de difícil acesso, dadas as limitações do mercado editorial à época, o desinteresse pela publicação de poesia e o impacto da censura, que, quando não proibia ou recolhia obras publicadas, despertava o medo em autores e editores em divulgar obras de contestação sob o risco de sofrerem futuros prejuízos e perseguição.

Na pesquisa são consideradas todas as tendências poéticas que circulavam à época, de autores consagrados que escreveram durante e sobre o período, como Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, a poetas populares, anônimos ou ignorados nos debates literários posteriores. O repertório abarca poemas experimentais, tradicionais, pops, populares, marginais, engajados, confessionais, de propaganda política.

O levantamento priorizou três eixos temáticos que nortearam a seleção:

- Repressão: poemas que abordam a tortura, o exílio, a prisão, a censura, o “desaparecimento”, a vida em clandestinidade.

- Resistência: poemas que mencionam passeatas, atos públicos, movimentos políticos nas cidades e no campo, convocações à luta, reflexões sobre o caráter mobilizador da poesia, homenagens a militantes.

- Cotidiano: poemas que revelam a sensação de sufocamento no país, o medo, a impotência, sátiras ao discurso ufanista e ao projeto tecnocrata do regime, crise/euforia econômica, a “banalidade do mal”.

O site do Memorial Poético já está disponível para acesso e conta com cerca de mil poemas. Os textos publicados foram transcritos, revisados e referenciados a partir de suas características básicas e o acervo final constitui um banco de dados público e confiável, à disposição de leitores, pesquisadores, professores e estudantes que se interessem pelo assunto.

“Hoje temos aproximadamente 1.200 poemas, mas continuamos alimentando esse acervo e esperamos reunir 3 mil, 4 mil poemas no repositório”, destaca Nelson. O levantamento de obras seguirá ativo até 2025, ampliando continuamente o acervo.

O projeto prevê também a publicação de uma antologia, que deve ser lançada em novembro deste ano. “Dentro do repositório, nós vamos selecionar um número de poetas que sejam representativos das temáticas que aparecem no memorial. A ideia é que essa antologia represente esse repertório que está disponível no site”, conta Nelson.

Acesse o site: mpac.ufes.br.

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